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sábado, 2 de maio de 2015

Amores, fantasmas, ventos e vilões: O morro dos ventos uivantes

Um menino órfão e morador de rua chamado Heathcliff é adotado por um pai de família que mal consegue lidar com os próprios filhos geniosos. O filho adotivo é tratado com muita crueldade, principalmente após a morte do novo pai, e as constantes surras e castigos continuam nas mãos do irmão mais velho, o novo guardião. O único consolo do jovem Heathcliff é a amizade da irmã, Catherine, que o trata com benevolência. Isso, porém, não é suficiente para abrandar a raiva e o desejo vingativo de Heathcliff. Esta é a base de O morro dos ventos uivantes (1847), de Emily Brontë (1818-1848).

O título do livro evoca algo de terror sobre o enredo, o que faz do único romance de Emily Brontë um belo exemplo de romance gótico. O clima na fazenda “Wuthering Heights”, em inglês, é sempre sombrio; fantasmas aparecem; líderes familiares são cruéis e violentos; fanáticos religiosos pregam  a quem não tem vida correta; residências são prisões de moças indefesas. Na época de publicação, O morro dos ventos uivantes causou espanto e rejeição justamente pela violência explícita e o desejo de vingança, além da infidelidade de seus protagonistas e seu desapego pelos valores da época vitoriana.



Você pode perguntar: sendo um romance do século XIX, não existe uma história de amor? Sim, existem algumas. Catherine e Heathcliff formam um dos pares mais famosos da literatura inglesa. Porém, na minha opinião, o melodrama de Catherine é insuportável; Heathcliff é, para mim, um sociopata; o conceito de amor do romance (bem difundido no livro) é muito exagerado em alguns momentos e bem clichê em outros. O amor é muito profundo em algumas partes, mas pode ser “fabricado” em outras – Mr. Lockwood, o narrador do romance, quase se apaixona apenas por ouvir uma história.


Como um legítimo exemplar de literatura inglesa vitoriana, O morro dos ventos uivantes possui uma moral: o preço da vingança é a morte da alma. O amor, a amizade, a boa convivência social são o que garantem a felicidade. No entanto, até a pessoa mais vingativa tem a última oportunidade de ser perdoada e corrigir sua vida. Basta recorrer aos preceitos cristãos, tratar as pessoas com gentileza e cordialidade e se arrepender.

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